Todos os dias, por volta das 17h, a aposentada Maria de Fátima Bezerra, 73 anos, fecha todas as janelas e portas de sua casa. “Para não entrar nenhum mosquito”, disse. De acordo com ela, o período de inverno roraimense é marcado por uma “invasão de mosquitos nas residências”. “Quando chove, é terrível! Se você não tranca tudo cedo, não consegue nem conversar direito, porque eles ficam zumbindo nos nossos ouvidos e picando a gente”, relatou.
A aposentada explica que vários são os métodos utilizados para combater o incômodo causado pelos mosquitos. “Quando eles conseguem entrar, por algum descuido nosso, a gente tem que se virar como pode. Borrifa o pesticida na casa e fica lá fora com eles enquanto os [mosquitos] da casa morrem. Aí, quando a gente volta, já estamos todos picados, mas conseguimos ficar em casa mais tranquilo”, disse Maria de Fátima.
Com uma filha de cinco meses em casa, Ana Gélia, 25 anos, afirma que muitos cuidados são necessários para manter o ambiente livre dos mosquitos. “A gente se preocupa muito porque ela é muito novinha e as picadas coçam e deixam a pele dela toda marcada”, afirmou.
Pesticidas fixos em tomadas, raquetes elétricase até incensos são alguns dos artifícios usados por Ana Gélia para afastar os mosquitos. “Meu esposo passa horas com a raquete na mão andando pela casa para garantir que o local fique livre para nossa família”, explicou.
“Meu filho mais velho também é alérgico. A gente sofre bastante com isso, já que exige preocupação constante. Lembro que antigamente tinha um carro fumacê que passava e ajudava no controle. Hoje em dia, cadê?”, indagou Ana Gélia.
À Folha, o Governo do Estado informou que o Carro Fumacê, como é conhecido, age no controle de mosquitos agentes de doenças como a dengue. De acordo com a Secretaria de Comunicação, um trabalho é realizado pelo Estado com parceria das prefeituras. “Existe um cronograma em que os sete carros que possuem o fumacê fazem o combate ao mosquito da dengue em todos os municípios do Estado”, reforçou a Secom por meio de nota.
“No momento, os carros se encontram na Capital, distribuídos nos diversos bairros e só passam jogando os produtos nas ruas durante a tarde e à noite. A previsão é que o trabalho seja concluído nos bairros de Boa Vista até a próxima semana, porém existe um complicador, que são as chuvas, que quando ocorrem, paralisam o serviço, que se torna ineficaz, e com isso o prazo para conclusão é adiado”, justificou a nota sobre a ausência dos carros na cidade.
Ainda em Boa Vista, a Prefeitura informou também que cabe ao município a competência da elaboração do cronograma das aplicações do carro fumacê conforme os índices de infestação dos mosquitos e casos notificados de dengue.
De acordo com a Prefeitura, a Coordenação de Vigilância e Controle de Doenças Transmitidas por Vetores está realizando o terceiro Levantamento de Índice Rápido do Aedesaegypti no Município de Boa Vista. “Esta ação visa levantar a incidência de aegypti, tipo de depósitos predominantes e imóveis positivos com larvas de Aedesaegypti. O resultado deste levantamento subsidiará o planejamento e cronograma de aplicação de inseticida, através do carro fumacê, nos bairros de Boa Vista”, disse a Prefeitura à Folha.
Conforme a PMBV, a sazonalidade do período de chuvas favorece o aumento de mosquitos nos bairros da Capital, principalmente nos meses de junho e julho, sendo este último o pico de incidência do vetor. “Esse cenário se cria devido ao grande acúmulo de água nos recipientes descartados, em sua grande maioria, dentro dos domicílios. As medidas preventivas quanto ao descarte adequado destes recipientes são a forma mais importante para a mudança desta situação”, frisou.
No restante do Estado, de acordo com a Secom, o combate é realizado em um trabalho conjunto, que é feito quando as prefeituras detectam um aumento nos criadouros do mosquito e mandam um oficio informando o bairro que está precisando do inseticida. “Cada município que solicita o serviço é atendido com três coberturas do inseticida. A quantidade de carros enviados depende do tamanho da cidade. No mês de junho, dois carros fumacês foram enviados para Caracaraí e desde então vêm fazendo as coberturas adequadas para eliminação dos criadouros”, informou o Estado.
Para aqueles que querem eliminar todos os tipos de mosquitos incômodos nas residências e não só os agentes de doenças, como realiza o Estado, a solução recomendada pela Prefeitura Municipal de Boa Vista é o acompanhamento de um especialista quanto ao uso de repelentes ou outros produtos oferecidos no mercado.
Produtos estes que podem ser encontrados no Centro Comercial Caxambu com uma média de preço entre R$ 20 e R$ 30. “As raquetes elétricas vendem muito porque elas matam os mosquitos, diminuindo quase 100% deles dentro de casa”, afirmou a comerciante Jucimara Andrade.
“Não existe, pelo Ministério da Saúde, um programa de controle de mosquitos no Brasil. A atribuição da prefeitura é evitar epidemias de dengue, malária, chikungunya e zika.Portanto, a prefeitura só irá controlar mosquitos quando houver participação da população quanto ao destino adequado do lixo das residências, visto que mais de 80% dos focos de mosquitos estão dentro dos domicílios”, concluiu a prefeitura. (J.L)